Nasci na família de Cristo por meio de uma igreja carismática, filho de um pastor e profundamente envolvido em igrejas desse tipo até meus 30 anos. Hoje, embora seja grato pelo lar que me apresentou ao Deus do universo, mal consigo reconhecê-la.
As pessoas que me trouxeram a Jesus me traíram, trocaram o amor genuíno do evangelho pelo fascínio do sucesso.
Às vezes, tenho até vergonha de minha herança. O que me trouxe alegria e conforto se tornaram memórias de desapontamento, manipulação e hipocrisia. Embora não só por causa disso, essa situação se fez clara quando eu testemunhei líderes que respeito votarem e apoiarem com entusiasmo um candidato que era a antítese do Cristo que eles me ensinaram.
Sera que eu fui enganado o tempo todo?
Embora não haja estatísticas sobre o apoio P&C (Pentecostal e Carismático) para Donald Trump, não ficaria surpreso se esse número fosse o norte para os 81% de evangélicos brancos que votaram nele em 2016. E como um grupo diverso nos Estados Unidos, a apoio não se limita apenas aos brancos, mas provavelmente abrange a maioria dos hispânicos, senão mesmo afro-americanos P&C. Não é simplesmente uma questão racial, mas sim uma crise teológica.
Quanto mais reflito sobre essa situação e relembro minha experiência, percebo que todos os ingredientes para essa guinada ao nacionalismo cristão estiveram lá o tempo todo. Eu apenas tolerava, negava ou simplesmente escolhia olhar para o outro lado. Minha fidelidade à experiência carismática me cegou para as contradições grosseiras que nossa tradição florescente carrega. Toda essa adoração exuberante, crescimento vibrante e fé implacável têm um lado negativo. Freqüentemente se manifesta em cultos a personalidade, uma tendência ao autoritarismo e um perigoso desprezo pelo escrutínio intelectual. A combinação desses três tornou possível a aliança profana com um líder narcisista, autoritário e nacionalista. Não vamos fingir que, com toda a nossa conversa sobre o poder de Deus, não estávamos interessados no poder humano. Fomos e ainda somos perigosamente seduzidos por ele. Em uma trágica barganha faustiana, pastores pentecostais trocaram a alma de nossa fé pelo acesso ao homem mais poderoso do mundo.
No entanto, meu objetivo aqui não é simplesmente expressar um desabafo mas transformá-lo em um apelo. Apesar do meu desapontamento com o movimento, conheço o Deus que os P&C adoram. Ele é maior e mais amplo do que todas as nossas mesquinhas ilusões teológicas. Reis e reinos passarão, mas o amor de Deus permanecerá. É por isso que imploro aos meus irmãos na fé que se examinem e se arrependam. Baseado na tradição profética bíblica, peço que eles reconsiderem suas lealdades políticas destrutivas. Ouça o que o Espírito está falando através das vozes nas margens, pois Deus não vive em casas brancas expansivas, mas nos gritos perturbadores dos oprimidos. Eu oro para que você transforme seu engajamento político no trabalho duradouro da igualdade, justiça do cuidado a criação.
Se você mora nos Estados Unidos, acredito que rejeitar Donald Trump nesta eleição é um passo importante nessa direção. Se você mora no Brasil, o mesmo se aplica a Jair Bolsonaro. Eles são falsos messias tentando manipular sua fé para ganho próprio. Resista à tentação de obter acesso ao poder e escolha manter sua fé perene. Se você estiver em outras partes do mundo, continue a apoiar o trabalho da caridade, igualdade e justiça no ambito local e global. Resista às narrativas políticas que prometem ordem na troca pela liberdade. Rejeite aqueles que falam de um passado moral utopico quando nossa fé está voltada para o futuro. Acima de tudo, fuja de líderes políticos que exigem lealdade inquestionável e atacam a mídia quando ela os questionam.
Plante uma árvore. Comforte o abatido. Fale pelos que nao tem voz. Dê aos pobres. Pois é dando que recebemos. É com humildade que honramos o Príncipe da paz.
O mundo ainda precisa testemunhar o que Deus pode fazer quando os cristãos cheios do Espírito buscam a paz. E se o movimento se tornasse uma voz implacável pela justiça, ungida para pregar as boas novas aos pobres e libertar os grilhões dos oprimidos? Este é o tempo Kairos de Deus para a nossa geração.
Vamos ouvir o chamado ou deixá-la passar por nós?
Que Espírito de Deus nos tornem ousados para um momento como este.
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